sexta-feira, 1 de maio de 2015

O meu, o seu, o nosso lugar de fala

            Espera-se que as universidades representem um espaço voltado para a argumentação e debate, mas quando um grupo de militantes negros pausa uma aula de microeconomia na FEA para discutir a questão das cotas raciais na USP, percebemos que não é bem assim que as coisas funcionam.
            Infelizmente, o que poderia ter sido um debate enriquecedor sobre o racismo na sociedade transformou-se em um lamentável show de horrores, no qual a intolerância foi atração principal, pois, quando os ânimos se exaltaram entre os militantes que buscavam voz dentro da universidade, os alunos que estavam pouco interessados com a pauta e a professora que estava mais preocupada em seguir o cronograma de aulas, o que não faltou foram discursos silenciadores e cheios de xingamentos. Dada essa triste realidade no ambiente acadêmico, me pergunto: Por que é tão difícil discutir a demanda de uma minoria, como as cotas raciais?
            A meu ver, a questão é que o discurso dos marginalizados, sejam eles os negros, as mulheres ou a comunidade LGBT, é abafado pela intolerância cada vez mais presente no cotidiano brasileiro, o que apenas dificulta e impossibilita a resolução dos problemas. Além do que, as falas que dão voz as minorias incomodam por trazem a tona problemáticas que preferimos colocar pra debaixo do tapete ou discutir em outro momento, com data e horário marcado.
No caso mencionado anteriormente, é até compreensível a relutância em ceder espaço para o debate em uma aula pré-prova, entretanto, o fato é que o racismo, o machismo e a homofobia não tem ocasião certa para acontecer, eles estão presentes diretamente e diariamente na vida daqueles que sofrem com eles e, também, não deixa de afetar a todos nós enquanto sociedade. Se só a discussão sobre esses assuntos nos incomoda, imaginem só como deve ser conviver a vida toda com essas questões.
            Por isso mesmo que as intervenções e debates não podem parar ou pedir licença para acontecer, uma vez que quem sofre na pele as consequências de tanta indiferença e exclusão não tem mais tempo a esperar.
Num mundo utópico a sociedade seria mais empática e acolheria os questionamentos de braços abertos para o confronto (saudável) de ideias, e acontecimentos como esse da FEA USP e tanto outros de mesmo caráter não seriam mais tão recorrentes, todavia, por hora, é apenas forçando espaço que as minorias se farão ouvir em meio a uma sociedade que grita para que se calem.


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