Espera-se que as universidades representem um espaço
voltado para a argumentação e debate, mas quando um grupo de militantes negros pausa
uma aula de microeconomia na FEA para discutir a questão das cotas raciais na
USP, percebemos que não é bem assim que as coisas funcionam.
Infelizmente,
o que poderia ter sido um debate enriquecedor sobre o racismo na sociedade
transformou-se em um lamentável show de horrores, no qual a intolerância foi
atração principal, pois, quando os ânimos se exaltaram entre os militantes que
buscavam voz dentro da universidade, os alunos que estavam pouco interessados
com a pauta e a professora que estava mais preocupada em seguir o cronograma de
aulas, o que não faltou foram discursos silenciadores e cheios de xingamentos. Dada
essa triste realidade no ambiente acadêmico, me pergunto: Por que é tão difícil
discutir a demanda de uma minoria, como as cotas raciais?
A
meu ver, a questão é que o discurso dos marginalizados, sejam eles os negros,
as mulheres ou a comunidade LGBT, é abafado pela intolerância cada vez mais
presente no cotidiano brasileiro, o que apenas dificulta e impossibilita a
resolução dos problemas. Além do que, as falas que dão voz as minorias
incomodam por trazem a tona problemáticas que preferimos colocar pra debaixo do
tapete ou discutir em outro momento, com data e horário marcado.
No caso mencionado
anteriormente, é até compreensível a relutância em ceder espaço para o debate
em uma aula pré-prova, entretanto, o fato é que o racismo, o machismo e a
homofobia não tem ocasião certa para acontecer, eles estão presentes
diretamente e diariamente na vida daqueles que sofrem com eles e, também, não
deixa de afetar a todos nós enquanto sociedade. Se só a discussão sobre esses
assuntos nos incomoda, imaginem só como deve ser conviver a vida toda com essas
questões.
Por
isso mesmo que as intervenções e debates não podem parar ou pedir licença para
acontecer, uma vez que quem sofre na pele as consequências de tanta indiferença
e exclusão não tem mais tempo a esperar.
Num mundo utópico a
sociedade seria mais empática e acolheria os questionamentos de braços abertos
para o confronto (saudável) de ideias, e acontecimentos como esse da FEA USP e
tanto outros de mesmo caráter não seriam mais tão recorrentes, todavia, por
hora, é apenas forçando espaço que as minorias se farão ouvir em meio a uma
sociedade que grita para que se calem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário