domingo, 10 de maio de 2015

O nada

Preciso escrever um texto e não consigo. Na verdade, estou a algum tempo tentando escrever qualquer texto e não consigo, porque todas as minhas ideias parecem muito normativas, clichês e sem sal. Prosa nenhuma se desenvolve, poemas nenhum rimam fora dos terríveis gerúndios, as crônicas estão todas sem vida e as narrativas sem clímax. Ultimamente, até meus bilhetes estão sem sentido.
Isso tem me frustrado bastante, tanto que chega a irritar. Comecei esse texto agora e não faço ideia de onde ele vai chegar, só sei que comecei e isso é uma vitória tão grande nesses tempos de inspiração escassa que estou até aliviada, mesmo que esse texto seja sobre o nada. Afinal, sendo o mais sincera que posso ser, confesso que passo boa parte do tempo, simplesmente, pensando em nada.  Então, nada mais justo que a reflexão dessa semana seja sobre exatamente isso: o nada.
Sinto-me em demérito por expor minha ausência de pensamento, mas ao mesmo tempo é como tirar um grande peso das costas, até porque não tem nada de errado em deixar a cabeça vazia por alguns momentos. Na verdade há certa liberdade, na qual o pensamento não está preso por amarras da moral social, sou só eu e minha mente sozinha numa fila de restaurante na hora do almoço ou na festa da madrugada de sábado.
Nesse sentido, não pense que sou escrava da ignorância, da frivolidade ou da irrelevância, pois, nem me lembro disso, de quem sou, de que planeta é este, de que as coisas existem. Não se é ignorante quando nem consciência se tem. É só um desligamento, da mesma forma de quando te perguntam se está tudo bem e você responde que sim, mesmo nem tendo parado para pensar na pergunta.
Talvez a paz de espírito seja isso mesmo, uma eterna tentativa de esquecer o significado de tudo aquilo que nos ensinam. Ou talvez, seja só um momento de bloqueio criativo na minha vida. Não sei. Mas agora, nesse final de texto percebo que apesar daquela sensação estranha de quem dorme e acorda tendo a certeza de que não teve nenhum sonho, estou leve. Não me julgo por não ter desenvolvido nenhuma tese espetacular, e espero que você não me julgue também. Deixo aqui um convite para que, às vezes, você, quem sabe, pense em nada. Peço que não recuse essa oportunidade, porque poucas coisas na vida são tão boas quanto aceitar que você não está nem aí se o dia está bom ou ruim. 

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