Preciso escrever um texto e não consigo. Na verdade, estou a
algum tempo tentando escrever qualquer texto e não consigo, porque todas as
minhas ideias parecem muito normativas, clichês e sem sal. Prosa nenhuma se
desenvolve, poemas nenhum rimam fora dos terríveis gerúndios, as crônicas estão
todas sem vida e as narrativas sem clímax. Ultimamente, até meus bilhetes estão
sem sentido.
Isso tem me frustrado bastante, tanto que chega a irritar. Comecei
esse texto agora e não faço ideia de onde ele vai chegar, só sei que comecei e
isso é uma vitória tão grande nesses tempos de inspiração escassa que estou até
aliviada, mesmo que esse texto seja sobre o nada. Afinal, sendo o mais sincera
que posso ser, confesso que passo boa parte do tempo, simplesmente, pensando em
nada. Então, nada mais justo que a
reflexão dessa semana seja sobre exatamente isso: o nada.
Sinto-me em demérito por expor minha ausência de pensamento,
mas ao mesmo tempo é como tirar um grande peso das costas, até porque não tem
nada de errado em deixar a cabeça vazia por alguns momentos. Na verdade há certa
liberdade, na qual o pensamento não está preso por amarras da moral social, sou
só eu e minha mente sozinha numa fila de restaurante na hora do almoço ou na
festa da madrugada de sábado.
Nesse sentido, não pense que sou escrava da ignorância, da
frivolidade ou da irrelevância, pois, nem me lembro disso, de quem sou, de que
planeta é este, de que as coisas existem. Não se é ignorante quando nem
consciência se tem. É só um desligamento, da mesma forma de quando te perguntam
se está tudo bem e você responde que sim, mesmo nem tendo parado para pensar na
pergunta.
Talvez a paz de espírito seja isso mesmo, uma eterna
tentativa de esquecer o significado de tudo aquilo que nos ensinam. Ou talvez,
seja só um momento de bloqueio criativo na minha vida. Não sei. Mas agora,
nesse final de texto percebo que apesar daquela sensação estranha de quem dorme
e acorda tendo a certeza de que não teve nenhum sonho, estou leve. Não me julgo
por não ter desenvolvido nenhuma tese espetacular, e espero que você não me
julgue também. Deixo aqui um convite para que, às vezes, você, quem sabe, pense
em nada. Peço que não recuse essa oportunidade, porque poucas coisas na vida
são tão boas quanto aceitar que você não está nem aí se o dia está bom ou ruim.
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